23 de ago. de 2007

Capitulo 1

Em meados da decada de oitenta, a algumas centenas de quilômetros de Teresina, capital do Estado do Piaui, existia uma cidade desconhecida até mesmo pelo mais preciso sistema GPS existente. Uma cidade que jamais ousou aparecer em mapas. Na verdade só levou o titulo de cidade há menos de quarenta anos em razão de interesses meramente políticos. Foi batizada com o nome de Aqui-Perto pelo seu fundador e primeiro prefeito da cidade, o senhor José Apolônio Bavariano que morreu sem revelar o real motivo da escolha do nome da cidade. Há quem diga que foi por pura gozação mesmo e talvez tenham razão já que toda vez que o Sr. Bavariano pronunciava o nome da cidade em seus discursos em praça pública ele era subitamente atacado por uma crise de risos, o que lhe obrigava a beber um copo com água e açúcar para prosseguir o discurso.No geral Aqui-Perto é uma cidade tranqüila, pacata, de clima quente e úmido, de ar campestre e terras férteis. Uma cidade pequena e estreita. Uma cidade muito pequena e estreita. Uma cidade tão pequena e estreita que certa vez foi observado que uma andorinha que sobrevoava a cidade ficou com as asas de fora.A cidade apresenta-se quase sempre muito tranqüila e serena. Mas não hoje. Hoje é Domingo, dia de fazer compras, “dia de feira” como eles dizem.A cidade está bastante agitada. As pessoas andam quase que aleatoriamente de um lado ao outro da Avenida central procurando os produtos de que necessitam.Ao lado da avenida, na praça central, que é na verdade a única da cidade, os cidadãos aquipertenses conversam, caminham, sentam e lêem jornais. Entre essas pessoas que conversam, caminham, sentam e lêem jornais encontra-se o Excelentíssimo, Estupêndissimo, Ilustríssimo, Magnificissimo Sr. Arnaldo Antunes Bavariano. O Sr. Antunes,como gosta de ser chamado, é um homem de estatura mediana e corpo volumoso porém rígido. O seu rosto de homem sofrido e seus cabelos brancos não escondem as suas mais de cinco décadas de vida. Mas de sofrido o Sr. Antunes só tem mesmo o rosto. Homem de boa família, nasceu em berço de ouro. Os primeiros doze anos de sua vida morou na capital do estado onde colou grau numa escola particular cujo proprietário era seu próprio pai,o Sr. José Apolônio Bavariano que nessa época, dentre outras coisas, vivia de fazer empréstimos a juros altíssimos. Financiava a campanha de muitos políticos da região. Chegava a emprestar dinheiro até pro próprio Governador do Estado.Os Bavarianos tinham muito apego pelo campo e costumavam passar os finais de semana numa de suas fazendas que ficavam às margens de Teresina. O jovem Antunes adorava brincar na areia da beira do rio enquanto seu pai tentava, quase sempre frustradamente, fisgar algum peixe. Adorava jogar bola com os filhos dos criados da fazenda que eram obrigados a passar a bola pra ele e deixa-lo fazer todos os gols. Adorava também quando sua mãe o balançava na rede enquanto lhe contava uma boa história sobre os Bavarianos ascendentes. O sr. José Apolônio também adorava o campo. Adorava-o na mesma medida em que odiava a cidade. Ele sempre achou que a cidade grande não era lugar para ele. E de fato não era mesmo. Seu Apolônio achava tudo na cidade muito complicado. As invenções que facilitam a vida na cidade grande como elevador, telefone e sinal de trânsito sempre lhe deixavam intrigado. Certa vez, ao tentar entrar em uma loja de conveniências ele ficou durante cerca de trinta minutos preso na porta giratória até que um dos funcionários da loja, depois de quase fazer xixi nas calças de tanto rir resolveu ajuda-lo.E assim seguia a vida dos Bavarianos, da cidade pro campo, do campo pra cidade, até que certo dia o Sr. Apolônio recebeu como pagamento de um empréstimo que tinha feito a um político da capital, incontáveis hectares de terra. Estas terras ficavam há pouco mais de trezentos quilômetros de Teresina. A Primeira vez que ele viu aquelas terras se apaixonou. Se encantou com o clima, com os campos verdes, com o rio, com a diversidade de pássaros e tudo mais e viu ali uma possibilidade concreta de tornar-se ainda mais rico e, conseqüentemente, mais feliz. E como a ambição está no sangue dos Bavarianos não deu outra. Seu Apolônio pegou sua família, seus criados, seus capangas e seus bens, abandonou a mansão da capital e mudou-se para estas terras.Logo ao chegar, fez um loteamento de dez mil terrenos com uma parte de suas terras e os cedeu gratuitamente a quem chegasse primeiro. Mas o que parecia ser uma boa ação do Sr. Antunes era na verdade um ato de interesse friamente calculado. Passado cincos anos todos os lotes estavam habitados e o Sr. Apolônio com a ajuda de alguns políticos influentes elegeu-se o primeiro prefeito da agora cidade de Aqui-perto. Permaneceu prefeito por mais dos mandatos antes de passar o titulo para seu irmão, o Sr. Eleosmar Bavariano.Em toda a historia de Aqui-perto só houve um prefeito que não era da família dos Bavarianos e este fugiu da cidade ainda na primeira semana do seu mandato depois de ter sido pego em flagrante no seu gabinete totalmente nu posicionado estrategicamente embaixo de um jumento, que parecia estar muito excitado. Nunca mais ninguém teve noticias dele. Os Bavarianos em geral tinham o dom da política. Apresentavam uma qualidade indispensável para a área: sabiam mentir muito bem.O Sr. Antunes é o único Bavariano que não se envolveu na política.Não tinha jeito pra coisa. Era um homem muito rude,ignorante, preconceituoso, não conseguiria conquistar a simpatia dos eleitores. Preferiu o ramo da agiotagem mesmo e nisso ele sempre foi muito bom. Quase metade de todos os pais de família aquipertenses já recorreram ao Sr. Antunes em algum momento de desespero. Ninguém nunca ousou deixar de paga-lo. Ninguém sequer ousou atrasar uma prestação. Todos o temem, e com razão. Contam que certa vez o velho ordenou aos seus capangas que amarrassem um senhor de idade no tronco de uma arvore e o jogassem no leito do rio só porque tinha sonhado que o pobre senhor iria fugir da cidade para não ter que pagar-lhe a divida. O pobre velho foi encontrado morto três dias depois dentro da barriga de uma baleia que tinha encalhado na praia de Copacabana no Rio de Janeiro.
Hoje, nesta bela manhã de domingo, Seu Antunes parece muito inquieto. Anda de um lado ao outro da movimentada praça da cidade sempre olhando para seu relógio de ouro perfeitamente arranjado no seu pulso esquerdo. Não para de movimentar-se de um lado ao outro forçando cada vez mais a sua bengala de madeira com acabamento de couro de onça, como se fosse quebrá-la. Seu Antunes tira o chapéu – e isso acredite é muito raro -, coça a cabeça, apruma o bigode,senta no banco, bate com o pé por três vezes seguidas no chão e olha novamente para o relógio. Os ponteiros marcam exatas dez horas.
- Finalmente – exclamou ele, com o mesmo ar de felicidade de uma criança quando recebe um pirulito como prêmio por ter feito o dever de casa.
O motivo de toda essa alegria que subitamente tomou-lhe conta naquele momento, o motivo de toda aquela ansiedade e nervosismo era perfeitamente justificável: ele ia cobrar uma divida. Se tem uma coisa nesse mundo que ele gosta mesmo de fazer é cobrar uma divida. Nestes dias ele sempre acorda mais cedo, toma um longo banho, entra em jejum, acende uma vela para Santo Expedito, chama dois de seus capangas e exatamente na hora combinada vai atrás do devedor sempre na certeza de que irá receber seu pagamento, seja o que for e o mais importante, seja como for.
O relógio acusa dez horas. O velho se prepara, dobra as mangas do seu terno, ajusta levemente o cinturão apertando um pouco a fivela de ouro que reluzia contra o sol, e segue em direção a charrete estacionada na lateral da praça. Seus capangas o acompanham sentando um a sua esquerda e o outro ao seu lado direito . Um deles estende a mão dando sinal ao charreteiro, e seguem viagem...

3 comentários:

Anônimo disse...

Bem, estou comentando não como alguém q entende muito do assunto,mas, como alguém que entende do que gosta de ler,por isso posso dizer que é uma leitura gostosa e engraçada e cada vez mais interessante,to adorando e não vejo a hora de saber mais sobre o personagem principal.

MPadilha disse...

Hoje to tortinha, mas add nos favoritos e leio tdinho amanhã. beijos

Henrique Miné disse...

AHHHHHHH
cara
axei seu blog meio sem qerer
masi realmente muito bom
comentei aki imbaxo poque so li a primera parte
AMS JA ADOREI
parabens mesmo

xD

talvez ainda hoje termine de ler tudo